"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A FOME DOS GAFANHOTOS

Estou tão louco
Como sou insano
Como posso ver essas coisas?
Porque critico esse estilo de vida?

Esta tudo bem, esta tudo bem.
Assim se deve proceder
Hei! Você está contente com sua vida?
Hei! Psiu! Animais, araras, onças...
Não têm muitos agora para falar-me
Como está senhor rio? Senhor é com você, como está?
Acho que ele não responde mais!
As arvores, cadê as imensas arvores?
Melhor falar com as canas
Quantas canas, mas elas nada dizem.
Acho que elas não sabem bem nossa língua
Vou dialogar lá no pasto com a senhora vaca
Mais tenho que ser rápido
Ela está apressada para o abate

Á! Casa Nova, Sobradinho!
Já se foram também para um eterno mergulho
E o Paranazão, suas imensas várzeas.
E os veados campeiros
Adeus, adeus, vejo vocês em um globo repórter.

Olhe lá um lobo Guará!
Deitadinho, na beira da estrada, todo estraçalhado.
Soja, soja, soja, nossa mais soja!
Cadê o cerrado e as suas frutas típicas que me falaram?

Gafanhotos fazem isso!
Eles têm muita fome
Eles têm muita sede
Eles comem de mais
Mas, sossegue você.
Enquanto os gafanhotos prosseguem!

Amazônia para que?
Você por acaso já foi para lá?
Então, o que te importa?
Melhor no sofá a vendo pela TV
Enquanto os gafanhotos
A comem demais!

Relaxe... A vida é assim
Deixe acontecer
Faça sua parte viu!
Faça o que os gafanhotos pedem
Não jogue o lixo na rua
Converse com seu vizinho
Não gaste tanta água menino!
Os gafanhotos têm mais sede
Deixe toda água para eles
Para suas pastagens, seus canaviais,
Seus imensos campos de soja
Deixe o lixo para ser jogado por suas indústrias
Por suas usinas e grandes magazines.
Deixe os gafanhotos, melhor! Trabalhe para eles,
Ame-os talvez
Eles te pagarão uma merreca por tudo isso
Pois eles têm mais fome,
Eles comem demais...

(David – 11/09)

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