"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

VELHOS CAMINHOS EM UM NOVO MUNDO

Um velho passa por uma antiga trilha:
O que este cenário nos mostra?
Talvez, que o mundo muda, avança,
Renova-se e inova-se.

Mas, o que nos interessa,
É que tanto o velho quanto a trilha
Invocam antigas concepções,
Concepções não mais visíveis aos nossos sentidos
Pois, o mundo é novo e o espaço o acompanha.

O velho e sua trilha se fundem por um lapso de tempo
Eles, nesse momento, são uma coisa só
Uma ilha do tempo no espaço novo.

Eles são uma sensível invocação do passado,
Dois caminhos que se percorrem a tempos,
Atravessando o tempo.

Aquele velho, aquela trilha tem histórias distintas,
Mas quando se conectam, fazem desabrochar no presente
Um tênue portal para o passado.
Formam um portal dinâmico e em movimento.
Um breve insight nos assola e nos conduz a pensar:
Quantos antigos caminhos trilhamos nesse novo mundo?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A arte dos ociosos (fragmento - H. Hesse)

Da indolente contemplação de uma áurea tarde de verão e do tranquilo e gostoso respirar do ar leve e puro da montanha até a compreensão íntima e profunda da natureza e paisagem, há um caminho a percorrer. Belo é poder, deitado sobre o chão morno de um prado ensolarado, passar algumas horas de ócio e descanso. Mas o gozo pleno, cem vezes mais potente e mais puro, cabe a quem o prado, com sua colina e seu regato, seu bosque de amieiros e sua cumeeira de montanhas a distancia, for um trato de terra familiar. Saber pelo estudo de um tão exíguo território concluir sobre as suas leis naturais, descobrir o determinismo de sua formação e vegetação e senti-las em conexão com a história, o temperamento, o estilo arquitetônico, o modo de falar e trajar do povo ali radicado, exige amor, dedicação, prática. Mas esses esforços valem a pena. No país de que nos apropriamos com fervor e amor, os prados e as rochas, em que descansamos, nos revelarão seus segredos e nos alimentarão com forças que não concederão a outros.
Dirão que: ninguém há de poder pesquisar um trato de terra, como geólogo, historiador, dialetólogo, botânico e agrônomo, vivendo ali apenas uma semana. Naturalmente que não. Mas digo-lhes: o que vale é a percepção das coisas, não a sua nomenclatura.

(digitado por David - 2010)

LAGO (OU ÁGUAS) DOS SABIÁS

Brincam sobre as águas

Por onde parecem nadar os sabiás.

Mesmo banhando os meus olhos

É assim que se divertem os sabiás.


Nobre lago de mil encantamentos

Em suas margens quantas memórias

De um passado que resiste e insiste

Em se mostrar pelo balé aquático dos sabiás.


As idéias e as lembranças são eternas

Pois presenciaram e construíram a história.

O lago, os campos, as cidades, todos os lugares,

São eternos porque são feitos de memória.


Lago que se faz eterno pelo prisma do sabiá

Mesmo que morras ou desapareça um dia

Saibas que a mim tem seu lugar

Em todas as casas de minha memória.


Homenagem as lembranças de um passado que vive, mas não pode mais se mostrar ao observador do presente. Homenagem ao laguinho da FCT-UNESP, quantas histórias...

(David 2008)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MOMENTOS

O dia passou sem vir

Não houve tempo

Suficiente para você refletir

Peça um conselho, ouça seu amigo vento.


Sente-se, relaxe, respire a fundo

Volte novamente a ser criança

Sonhe, pois ainda é jovem, é dono do mundo

Em nenhum momento pense em perder a esperança.


De caminhar em caminhada

Olhe, veja, repare, contemple

Seja o campo, faça uma flor para mulher amada.


Tantos momentos fazem um dia

Absorva-os, pois sem eles a vida fica vazia

Não chore, não se entristeça, sorria.


(David)

MOMENTOS II

Corra até o horizonte

Dê todos os passos que puder dar

Vá muito além de trás do monte

Quando a terra acabar não tema em navegar.


Quando estiver cansado de correr

Divirta-se aí mesmo, em seu momentinho

Só pare de criar, imaginar, quando morrer

Construa um mundo, faça a paz, tudo em seu cantinho.


Alie-se aos seus inimigos

Perdoe a quem tiver que perdoar

Nunca se esqueça dos melhores amigos.


Se algo ainda lhe faltar

Olhe firme e peça aos céus

Mais uma pessoa que possa amar.

(David)

sábado, 18 de dezembro de 2010

Soneto ao tempo

O tempo só é pensado, a tempo

Medido por ritmo ele é poesia

Corre ao vento, transforma dor em acalento

Aquele que antes chorava, ontem sorria.


De pensar... Passou o momento

De relance lancei-me no espaço

Por que não sonhar? Perder esse sentimento!

Retornar ao presente? Deixe-me eu mesmo faço!


De dia vejo as coisas acontecerem

O sol é que faz, alumia todos os afazeres

É um desconforto, há uma falta de paz.


De noite o sonho faz amortecer

A lua não deixa acontecer às trevas aparecer

Então, vivo nesse eterno tempo, nesse constante renascer.


(DAVID – 12/10)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

NOS VALES DA VIDA E DA MORTE

Entre as vertentes da imaginação

Encontramos os vales sombrios do desespero

Nestes vales escuros

Não há reflexo na correnteza de seus rios.


Mas, se sonhar é viver

Devemos explorar com coragem

Nossos vales, rios e escuridões

Nem sempre a luz nos deixa ver!


É nas profundezas, talvez,

Que nos sentimos mais bucólicos

Mais sofredores do “sem causa”

Mais amantes do desespero.


Nos fundos vales, em seus rios

Pescamos nossas novas ilusões

Estas que uma vez em nossas mãos

Fazem nos apreçar em subir a colina

E gritar a todos: tenho novidades!


Quantas novidades patéticas

Encontramos entre os vales da imaginação

Não cuidamos para que ele

Seja menos obscuro,

Pelo contrário

Dia após dia deixamo-nos além da penumbra

Grosso véu da incapacidade

De nossa imaginação recriar-se


A questão não é o vale

Esse, em si, é apenas uma condição

Um fato e uma existência dada [...]

A questão é o que fazer do vale?


Há pouca vida na falta de luz

Mas, ela nunca deixa de existir

Apenas ficam as cegas

Ou com mau vista


A dificuldade de ver

Prejudica a compreensão

Que é requisito

Para a imaginação criadora.


Se os vales são obscuros

Os topos, as cimeiras e os altos

São o refresco e o lugar

De novas tolices.


Refresco pela boa visão

Tolice de achar

Que essa visão ampliada

De todos os vales sombrios

Seja algo de valor.


Ao contrário, no topo

Ampliamos nossas tolices

Pois, lidamos com a neutralidade

De ver, mas não estar entre as sombras.


O menos tolo se retira do topo

E segue o mesmo curso do rio

Sempre para o lugar mais baixo

Correndo entre os vales.


É lá que vale a pena sofrer (viver)

E ser tolo ao igual

É lá que vale a pena

Pescar novas ilusões


O rio nos ensina

Mas, também, nos leva a morte

Enigma da vida

É no vale que nos tornamos

Sombrios, tolos e iludidos.


Mas é, igualmente, neste mesmo lugar

Que encontramos a morte e

A redenção.


Esta condição de livrar-se

Da tolice, que nos impede

De ver o que há tempos

Já se anuncia tão claramente!

(David)