"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A arte dos ociosos (fragmento - H. Hesse)

Da indolente contemplação de uma áurea tarde de verão e do tranquilo e gostoso respirar do ar leve e puro da montanha até a compreensão íntima e profunda da natureza e paisagem, há um caminho a percorrer. Belo é poder, deitado sobre o chão morno de um prado ensolarado, passar algumas horas de ócio e descanso. Mas o gozo pleno, cem vezes mais potente e mais puro, cabe a quem o prado, com sua colina e seu regato, seu bosque de amieiros e sua cumeeira de montanhas a distancia, for um trato de terra familiar. Saber pelo estudo de um tão exíguo território concluir sobre as suas leis naturais, descobrir o determinismo de sua formação e vegetação e senti-las em conexão com a história, o temperamento, o estilo arquitetônico, o modo de falar e trajar do povo ali radicado, exige amor, dedicação, prática. Mas esses esforços valem a pena. No país de que nos apropriamos com fervor e amor, os prados e as rochas, em que descansamos, nos revelarão seus segredos e nos alimentarão com forças que não concederão a outros.
Dirão que: ninguém há de poder pesquisar um trato de terra, como geólogo, historiador, dialetólogo, botânico e agrônomo, vivendo ali apenas uma semana. Naturalmente que não. Mas digo-lhes: o que vale é a percepção das coisas, não a sua nomenclatura.

(digitado por David - 2010)

Nenhum comentário: