Entre as vertentes da imaginação
Encontramos os vales sombrios do desespero
Nestes vales escuros
Não há reflexo na correnteza de seus rios.
Mas, se sonhar é viver
Devemos explorar com coragem
Nossos vales, rios e escuridões
Nem sempre a luz nos deixa ver!
É nas profundezas, talvez,
Que nos sentimos mais bucólicos
Mais sofredores do “sem causa”
Mais amantes do desespero.
Nos fundos vales, em seus rios
Pescamos nossas novas ilusões
Estas que uma vez em nossas mãos
Fazem nos apreçar em subir a colina
E gritar a todos: tenho novidades!
Quantas novidades patéticas
Encontramos entre os vales da imaginação
Não cuidamos para que ele
Seja menos obscuro,
Pelo contrário
Dia após dia deixamo-nos além da penumbra
Grosso véu da incapacidade
De nossa imaginação recriar-se
A questão não é o vale
Esse, em si, é apenas uma condição
Um fato e uma existência dada [...]
A questão é o que fazer do vale?
Há pouca vida na falta de luz
Mas, ela nunca deixa de existir
Apenas ficam as cegas
Ou com mau vista
A dificuldade de ver
Prejudica a compreensão
Que é requisito
Para a imaginação criadora.
Se os vales são obscuros
Os topos, as cimeiras e os altos
São o refresco e o lugar
De novas tolices.
Refresco pela boa visão
Tolice de achar
Que essa visão ampliada
De todos os vales sombrios
Seja algo de valor.
Ao contrário, no topo
Ampliamos nossas tolices
Pois, lidamos com a neutralidade
De ver, mas não estar entre as sombras.
O menos tolo se retira do topo
E segue o mesmo curso do rio
Sempre para o lugar mais baixo
Correndo entre os vales.
É lá que vale a pena sofrer (viver)
E ser tolo ao igual
É lá que vale a pena
Pescar novas ilusões
O rio nos ensina
Mas, também, nos leva a morte
Enigma da vida
É no vale que nos tornamos
Sombrios, tolos e iludidos.
Mas é, igualmente, neste mesmo lugar
Que encontramos a morte e
A redenção.
Esta condição de livrar-se
Da tolice, que nos impede
De ver o que há tempos
Já se anuncia tão claramente!
(David)
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