"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

NOS VALES DA VIDA E DA MORTE

Entre as vertentes da imaginação

Encontramos os vales sombrios do desespero

Nestes vales escuros

Não há reflexo na correnteza de seus rios.


Mas, se sonhar é viver

Devemos explorar com coragem

Nossos vales, rios e escuridões

Nem sempre a luz nos deixa ver!


É nas profundezas, talvez,

Que nos sentimos mais bucólicos

Mais sofredores do “sem causa”

Mais amantes do desespero.


Nos fundos vales, em seus rios

Pescamos nossas novas ilusões

Estas que uma vez em nossas mãos

Fazem nos apreçar em subir a colina

E gritar a todos: tenho novidades!


Quantas novidades patéticas

Encontramos entre os vales da imaginação

Não cuidamos para que ele

Seja menos obscuro,

Pelo contrário

Dia após dia deixamo-nos além da penumbra

Grosso véu da incapacidade

De nossa imaginação recriar-se


A questão não é o vale

Esse, em si, é apenas uma condição

Um fato e uma existência dada [...]

A questão é o que fazer do vale?


Há pouca vida na falta de luz

Mas, ela nunca deixa de existir

Apenas ficam as cegas

Ou com mau vista


A dificuldade de ver

Prejudica a compreensão

Que é requisito

Para a imaginação criadora.


Se os vales são obscuros

Os topos, as cimeiras e os altos

São o refresco e o lugar

De novas tolices.


Refresco pela boa visão

Tolice de achar

Que essa visão ampliada

De todos os vales sombrios

Seja algo de valor.


Ao contrário, no topo

Ampliamos nossas tolices

Pois, lidamos com a neutralidade

De ver, mas não estar entre as sombras.


O menos tolo se retira do topo

E segue o mesmo curso do rio

Sempre para o lugar mais baixo

Correndo entre os vales.


É lá que vale a pena sofrer (viver)

E ser tolo ao igual

É lá que vale a pena

Pescar novas ilusões


O rio nos ensina

Mas, também, nos leva a morte

Enigma da vida

É no vale que nos tornamos

Sombrios, tolos e iludidos.


Mas é, igualmente, neste mesmo lugar

Que encontramos a morte e

A redenção.


Esta condição de livrar-se

Da tolice, que nos impede

De ver o que há tempos

Já se anuncia tão claramente!

(David)

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