"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A arte dos ociosos (fragmento - H. Hesse)

Da indolente contemplação de uma áurea tarde de verão e do tranquilo e gostoso respirar do ar leve e puro da montanha até a compreensão íntima e profunda da natureza e paisagem, há um caminho a percorrer. Belo é poder, deitado sobre o chão morno de um prado ensolarado, passar algumas horas de ócio e descanso. Mas o gozo pleno, cem vezes mais potente e mais puro, cabe a quem o prado, com sua colina e seu regato, seu bosque de amieiros e sua cumeeira de montanhas a distancia, for um trato de terra familiar. Saber pelo estudo de um tão exíguo território concluir sobre as suas leis naturais, descobrir o determinismo de sua formação e vegetação e senti-las em conexão com a história, o temperamento, o estilo arquitetônico, o modo de falar e trajar do povo ali radicado, exige amor, dedicação, prática. Mas esses esforços valem a pena. No país de que nos apropriamos com fervor e amor, os prados e as rochas, em que descansamos, nos revelarão seus segredos e nos alimentarão com forças que não concederão a outros.
Dirão que: ninguém há de poder pesquisar um trato de terra, como geólogo, historiador, dialetólogo, botânico e agrônomo, vivendo ali apenas uma semana. Naturalmente que não. Mas digo-lhes: o que vale é a percepção das coisas, não a sua nomenclatura.

(digitado por David - 2010)

LAGO (OU ÁGUAS) DOS SABIÁS

Brincam sobre as águas

Por onde parecem nadar os sabiás.

Mesmo banhando os meus olhos

É assim que se divertem os sabiás.


Nobre lago de mil encantamentos

Em suas margens quantas memórias

De um passado que resiste e insiste

Em se mostrar pelo balé aquático dos sabiás.


As idéias e as lembranças são eternas

Pois presenciaram e construíram a história.

O lago, os campos, as cidades, todos os lugares,

São eternos porque são feitos de memória.


Lago que se faz eterno pelo prisma do sabiá

Mesmo que morras ou desapareça um dia

Saibas que a mim tem seu lugar

Em todas as casas de minha memória.


Homenagem as lembranças de um passado que vive, mas não pode mais se mostrar ao observador do presente. Homenagem ao laguinho da FCT-UNESP, quantas histórias...

(David 2008)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MOMENTOS

O dia passou sem vir

Não houve tempo

Suficiente para você refletir

Peça um conselho, ouça seu amigo vento.


Sente-se, relaxe, respire a fundo

Volte novamente a ser criança

Sonhe, pois ainda é jovem, é dono do mundo

Em nenhum momento pense em perder a esperança.


De caminhar em caminhada

Olhe, veja, repare, contemple

Seja o campo, faça uma flor para mulher amada.


Tantos momentos fazem um dia

Absorva-os, pois sem eles a vida fica vazia

Não chore, não se entristeça, sorria.


(David)

MOMENTOS II

Corra até o horizonte

Dê todos os passos que puder dar

Vá muito além de trás do monte

Quando a terra acabar não tema em navegar.


Quando estiver cansado de correr

Divirta-se aí mesmo, em seu momentinho

Só pare de criar, imaginar, quando morrer

Construa um mundo, faça a paz, tudo em seu cantinho.


Alie-se aos seus inimigos

Perdoe a quem tiver que perdoar

Nunca se esqueça dos melhores amigos.


Se algo ainda lhe faltar

Olhe firme e peça aos céus

Mais uma pessoa que possa amar.

(David)

sábado, 18 de dezembro de 2010

Soneto ao tempo

O tempo só é pensado, a tempo

Medido por ritmo ele é poesia

Corre ao vento, transforma dor em acalento

Aquele que antes chorava, ontem sorria.


De pensar... Passou o momento

De relance lancei-me no espaço

Por que não sonhar? Perder esse sentimento!

Retornar ao presente? Deixe-me eu mesmo faço!


De dia vejo as coisas acontecerem

O sol é que faz, alumia todos os afazeres

É um desconforto, há uma falta de paz.


De noite o sonho faz amortecer

A lua não deixa acontecer às trevas aparecer

Então, vivo nesse eterno tempo, nesse constante renascer.


(DAVID – 12/10)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

NOS VALES DA VIDA E DA MORTE

Entre as vertentes da imaginação

Encontramos os vales sombrios do desespero

Nestes vales escuros

Não há reflexo na correnteza de seus rios.


Mas, se sonhar é viver

Devemos explorar com coragem

Nossos vales, rios e escuridões

Nem sempre a luz nos deixa ver!


É nas profundezas, talvez,

Que nos sentimos mais bucólicos

Mais sofredores do “sem causa”

Mais amantes do desespero.


Nos fundos vales, em seus rios

Pescamos nossas novas ilusões

Estas que uma vez em nossas mãos

Fazem nos apreçar em subir a colina

E gritar a todos: tenho novidades!


Quantas novidades patéticas

Encontramos entre os vales da imaginação

Não cuidamos para que ele

Seja menos obscuro,

Pelo contrário

Dia após dia deixamo-nos além da penumbra

Grosso véu da incapacidade

De nossa imaginação recriar-se


A questão não é o vale

Esse, em si, é apenas uma condição

Um fato e uma existência dada [...]

A questão é o que fazer do vale?


Há pouca vida na falta de luz

Mas, ela nunca deixa de existir

Apenas ficam as cegas

Ou com mau vista


A dificuldade de ver

Prejudica a compreensão

Que é requisito

Para a imaginação criadora.


Se os vales são obscuros

Os topos, as cimeiras e os altos

São o refresco e o lugar

De novas tolices.


Refresco pela boa visão

Tolice de achar

Que essa visão ampliada

De todos os vales sombrios

Seja algo de valor.


Ao contrário, no topo

Ampliamos nossas tolices

Pois, lidamos com a neutralidade

De ver, mas não estar entre as sombras.


O menos tolo se retira do topo

E segue o mesmo curso do rio

Sempre para o lugar mais baixo

Correndo entre os vales.


É lá que vale a pena sofrer (viver)

E ser tolo ao igual

É lá que vale a pena

Pescar novas ilusões


O rio nos ensina

Mas, também, nos leva a morte

Enigma da vida

É no vale que nos tornamos

Sombrios, tolos e iludidos.


Mas é, igualmente, neste mesmo lugar

Que encontramos a morte e

A redenção.


Esta condição de livrar-se

Da tolice, que nos impede

De ver o que há tempos

Já se anuncia tão claramente!

(David)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Foi-se?

O passado é tão tremulo como a mão de um enfermo,
Nada se segura, e o que fica chamamos de lembrança.
Lembranças reavivam as opiniões, fazem-nos enxergar
Pelas frestas da história, nossas formas de viver.

Amizades se constroem no passado
e se lembram no presente.
Muitas vezes as pessoas se vão e o que ficam
são apenas as lembranças.
Tal recado é um alerta do que já foi para o que é agora,
E também para o que será...

Foi-se muita coisa, ficaram outras
No presente construimos nosso passado,
e ele não nos furta da lembrança...Passado não dá presente
Nem nos dá oportunidade de muda-lo,
Passado é concreto e não abstrato,
Passado se faz do presente, presente não se concretiza,
Presente é livre, porquê é dele que se vive!

(Vamos nos presentear com o presente amigos)

David - 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A ideia do Céu

A vasta luz primeira,

Aquela do anunciar do dia,

Cega o olho

Do antigo morador da imensa noite.

Após os segundos iniciais

As pupilas se fixam na imagem,

O ser se levanta

E começa a perceber.

Ele aprende com o que vê

As tuas escolhas mostram

Os passos a direcionar.

O retorno é bem visto

Quando o caminho

Não o leva a nenhum lugar.

Encontrando a assertiva direção,

A luz já não mais o cega:

Encaminha!

Ele agora é o guia

Dos companheiros míopes.

Nesse momento, entrega-se a solução,

Abençoa e desamarra os nós:

Cura o enfermo adoecido pelo mundo!

Apurando a visão, compreende.

A mente translúcida

Soluciona e cria

Novas “formas de vida”.

O homem, assim, trancende a humanidade.

Se funde: abandona o “eu” e desdobra-se no ser,

Metamorfoseia-se misteriosamente:

Puro sinal de Deus!

Supremo, alcança o caminho infinito do Céu.

(DAVID, 2010)

Caverna do Boi

Vai Boi!

Morrer no pasto

De repente, sua cabeça está na chácara.

Então, em momento alucinante,

Virou metade morte, metade carnaval!

COGUMELOS VOADORES

Que os deixem, então, os pensamentos.

Pois, a viagem está dentro de você!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Imagem do Espaço (Tese)

Dizia o poeta sobre o mundo:
"Tudo aqui é antes de mais nada
um esforço de imaginação"
E naquele quarto, entre 4 paredes
Tudo parecia flutuar!

Que se esgotassem as imagens
(Não a simétrica, mas as de fantasia)
Fantasticamente viveriamos
Um mundo opaco, sem raios, nem luz.

Sendo o espaço coisa viva
É a imaginação (nossa, de todos) que preenche o espaço
E desse esforço de pensamento
Vive-se o espaço da ilusão.

(David)

Do pensamento (Anti-Tese)

Entre contornos
Dentro dos espaços
(De seu quarto, de seu pensamento)
Esta sua vida.

Circuscrito de memórias
Preso na redoma de suas lembranças (de seus aprendizados)
Esforce-se no devir
"Entreabra-se"

Zombe das linhas
(Des)geometrize as retas, os angulos.
Faça diante de ti recuar o espaço
Para que o "ser meditante"
Desdobre-se (Como o desabrochar de uma flor).

(David)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ruídos do Passado

Ontem, certos homens,
Estrebuchavam-se uma última vez
Executavam seus derradeiros esforços diários,
Seus últimos artefatos.

Hoje, neste mundo imenso,
Eles formam, no conjunto do tempo,
Apenas mais um ruído entre o turbilhão.

No rolar dos séculos
Quiçá dos milênios
Destinados a apagar-se (completamente)
Como se nunca tivessem existido,
Surge algo, alguém:
Uma ciência, cientistas,
Que em seus esforços
Buscam compreendê-los!

(David)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Poética do Espaço*

"O espaço é a casa da memória,
Senhor do tempo,
Pois, só nele está reservado,
Mesmo que de maneira imprecisa,
Ou feito matiz,
As cores do passado
Recuperadas incessantemente
Pela alma lúcida do poeta
Ou seja: Por seus próprios devaneios!

(David)

*Alusão ao titulo da obra de G. Bachelard

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cadente

Caiu do céu, oh luz do luar,
Teu brilho encantado me faz suspirar.
Pelos teus olhos sintilantes,
Adentro-te, torno-me teu,
Traz-me luz afastando meu breu.

Veio sorrindo, chegou meiga e alegre,
Se fez surpresa em pura beleza.

A luz dos teus olhos,
Na trilha dos meus passos,
Me guiando, conduzindo,
Sempre sorrindo.

Teu perfume me alivia,
Minha mente entorpecida,
Tua pele, pétala de rosa,
Suave, tu és carinhosa.

Esse carinho de teus atos,
O teu toque carismático,
Me fazendo estonteado.

Te encontrei, linda amada
Tropeçando em teus passos,
Me fez apaixonado,
Caído aos teus braços.

João 12/08/2010

RECADO PARA NAVEGANTES

Só, navegante navega nesse grande mar
Mar que outrora navegava inumeros outros navegantes.
Era rico de poesia e devaneios
De idéias e sentimentos.
Suas águas eram claras
Porém, vez ou outra, tornavam-se turvas.

Este mar de idéias nem sempre foi grandioso.
Começou como um fio de agua clara
Frágil, procurava seu caminho em meio as rochas.
Rompeu-as e conquistou seu percurso,
Chegou ao mar de idéias e se inspirou!

Inspiração incessante,
Descontrolavelmente justa e amorosa
Conquistou alguns leitores
E deu alma a um grupo de pessoas.

Sendo navegante só desse imenso mar,
Clamo pelo retorno dos antigos navegantes
Que em suas naus, proclamem seu verbo,
Sua serenata de amor,
Seu poema solidário,
Sua carta para um caro amigo,
Proclamem as suaves vibrações universais.
Coloquem a vista, em terra firme, suas inspiradoras inspirações!

(David - Recado para navegantes)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

MARÃEY*

Tudo é eterno
Como o caminho das águas,
Porque tudo vai correr bem
Em seu devido lugar.

Às vezes, os caminhos se cruzam
Vamos juntos, caminhar sempre pelo bom caminho
Aventurar-nos no mesmo bonito caminho.

Tudo há de saber, de saltar o saber
Por onde nós andamos,
Por onde nós passamos.

Tudo é eterno
Como o caminho dos ventos
Tudo vem de longe,
Caminhando voltamos ao nosso lar:
Porque tudo é eterno
Quando nós andamos
Quando nós passamos.

*ONDE TUDO É ETERNO, ONDE NADA TEM FIM

(Homenagem a sabedoria milenar dos guaranis – David – 2010)

MEU LUGAR

Quando nasci, aqui neste mundo, não encontrei meu lugar
Não havia tempo ou espaço que me fizessem rir.
Como que as conversas não tivessem cor
E todas as belezas, “admiradas”, fossem sem sabor.

De caminhar... Caminhava!
Rumo? Sim eu tinha, sem mesmo notar.
Via, eu, toda aquela paisagem. Que era o mundo.
Todo ele de braços e eu só de abraços em mim.

Que cai-se uma estrela
Que milagre via neste episódio?
Para mim, de querer cair... Caiu!
Deixou de ser para existir.

Pensava eu nisto ou naquilo,
E numa maré quebrante
Passava por cima de todos
Que sobre “isto” ou “aquilo” me infortunavam.

Deixe ser para estar.
No momento que alguém encontrava seu lugar
Eu sempre ia me despedindo
Sem nunca achar aquilo pelo qual comecei o que digo.

Fui então para lá; no alto, ver tudo por cima:
Milagre da natureza!
Tão semelhante somos as formigas
Escravos, bestas...
Tão homens, tão inconscientes de si.

E vocês, encontrando o que querem para ter:
Que fiquem. Eu já vou!
Pendurei no cometa e parti
Vejo vocês lá de cima (do sideral)
Suas antenas, seus braçais, amantes... Pensadores?

(DAVID – AGOSTO – 2010)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O MENINO DA CHUVA

“Se pensarmos a vida como um filme - cada momento vivido será uma cena representada. Se pensarmos que cada frase dita por nós, todos os dias, formam versos, então todo dia será feito poesia. Se agirmos todos os dias como membro de uma só família – uma humanidade – então todos serão nossos irmãos” (David).


Era final de Março, dia de intensa tempestade, os meninos andavam de bicicleta procurando abrigo. Carlos, o menor, se desviou da turma, se perdeu em meio ao turbilhão de chuvas. Não enxergava um palmo à frente de seus olhos e decidiu acelerar a pedalada para alcançar seus amigos. De repente, bruscamente, caiu o menino, se esfolando todo naquela rua enlameada.
Ficou estendido na rua, desmaiado no barro por longo tempo. Perderá a consciência quando bateu, repentinamente, sua cabeça no chão. Não tinha noção de tempo nem de espaço. A chuva já afinara, mas, o menino não sabia nem onde estava. Em momento oportuno surge uma mulher, uma senhora das redondezas e apanha o menino nos braços. Leva-o para sua casa. Lá, grita a seu marido Afonso para ir pegar os medicamentos de ferimento. Após o feito, Afonso parte para a rua do acidente para apanhar a bicicleta do menino.
A mulher, também conhecida por Dona Rosa, trata com esmero os ferimentos do menino, como fosse de seu próprio filho. Seu marido pergunta-lhe o nome e onde ele mora. O menino ainda confuso, atordoado pelo acidente, pela casa onde está, pelas pessoas que vê, responde com dificuldade: “Carlos. Chamo-me Carlos. Moro na Rua Jabuticabeiras, na Vila dos Pomares.” O olhar de Afonso para Dona Rosa, nesse momento, foi inevitável.
O casal que acolheu o menino era residente da favela Mãe Maria, próximo à área nobre da cidade, a Vila dos Pomares. Praticamente todos os moradores da comunidade Mãe Maria trabalhavam nas casas dos Patrões dos Pomares, como eram chamados os residentes daquele “nobre bairro”. Eram, em sua grande maioria, carpinteiros, motoristas, jardineiros, caseiros, domésticas, etc. No caso de Dona Maria, era apenas dona de seu lar, mas com muito orgulho. Afonso fazia serviços gerais; quando menino trabalhava na funilaria do seu pai, depois se tornou eletricista por influência do tio e, finalmente, por si só, aprendeu a cultivar plantas e legumes e exercia também o oficio de jardineiro.
Após os curativos, Dona Rosa preparou um café bem forte para o menino, fez um saboroso bolo de milho, lavou-lhe as roupas sujas e lhe deu roupas novas e cheirosas de seu falecido filho, que por coincidência, na hora de seu padecimento, tinha a mesma idade de Carlos, dez anos.
Conversaram na salinha humilde. Dois sofás encostavam-se a duas paredes cegas. Na outra havia uma janelinha que dava para viela de frente. Ao lado o acesso à cozinha e logo à frente o único quarto da casa. Em um golpe de olho era possível ver quase toda a residência.
O menino abriu a sua mochila, tomou seu caderno de escola e mostrou a Dona Rosa e seu marido. “Olha que linda letra ele tem Afonso!” Exclamou a dona de casa. “Sim com certeza este menino é muito inteligente”, retrucou-lhe o marido. Carlos ainda mostrou para o casal o livro que estava lendo, falava sobre deuses e sábios da antiguidade. O material estava meio molhado, mas sua mochila de tecido grosso havia protegido seu caderno e livro. Passaram horas conversando na salinha, o menino não se dava conta que sua família estava a sua procura e o casal se esquecerá que este não era seu filho.
De repente toda aquela emoção do momento foi rompida, gritavam-lhe pelo nome, na rua de cima: Carlos, Carlos! Eram seus irmãos, seu pai e os amigos que lhes mostravam o caminho da ultima vez que viram o menino. Carlos agradeceu a benfeitoria ao casal, deu um beijo em Rosa, apanhou sua mochila e bicicleta e partiu ao encontro daqueles que lhe procuravam.
Carlos a partir desse dia nunca esqueceu Dona Rosa e Afonso. Olhava sua bela casa, sentia seu conforto, mas na verdade queria estar na casa daquelas singelas pessoas. Era apenas um barraco, mas tinha sentimento, emoção, vida. Nada era artificial, tudo era feito com paixão, e as poucas horas que Carlos ali ficou lhe ensinaram isto.
Toda tarde quando saia da escola Carlos se apressava para fazer uma visita ao casal acolhedor. Todo dia a mesma rotina. Carlos chegava à casa de Dona Rosa e o bolo com café já estava posto a mesa. Conversavam sobre todos os assuntos: escola, literatura, estórias. Ficavam por longas horas se divertindo, e antes do anoitecer Carlos se despedia e retornava ao seu lar verdadeiro. Seu pai sempre ocupado, viúvo, não fazia conta das visitas do filho para aquele casal. Só lhe pedia que voltasse antes do anoitecer, pois julgava a favela Mãe Maria como um lugar perigoso.
O menino tornou-se homem na comunidade. Conhecia toda vizinhança. Por anos freqüentava a favela e praticamente passou sua infância e começo de adolescência naquele lugar. Aprendeu muito. Coisas que não se via em seu bairro. Humildade, solidariedade, viver em comunidade foram alguns dos aprendizados. Certa vez colaborou com a família do Seu Dracir a construir sua casa. Foi um belo mutirão que se viu. Todos na rua colaboraram. Todos os dias ele fazia um pouco de tudo, carregava tijolos, confeccionava a massa de cimento, assentava o piso. Foram dois meses de muito trabalho, mas também muito divertimento. O povo era feliz, depois do expediente faziam um jantar comunitário na capelinha do bairro e todos conversavam alegremente. No final da construção, Dracir fez um belo churrasco e convidou a todos para celebrar. Nesta oportunidade Carlos também chamou seu pai, cirurgião de um renomado hospital da cidade, para se juntar a seus amigos. Foi uma linda tarde, como nunca mais se viu por aquelas bandas.
Carlos cresceu e foi à universidade estudar economia. Seu pai desejará isto a seu filho e Carlos não se opunha, achava até interessante. Aos poucos Carlos deixou de visitar o pessoal da comunidade Mãe Maria. Já não havia tempo para isto. O estudo e os estágios lhe ocupavam quase todo tempo. Seu pai, influente na cidade, abrira a porta para Carlos conhecer os mais renomados economistas e empresários da região. Terminou o curso com mérito e logo se envolveu na política municipal.
Agora, Carlos fraternizava apenas nas rodas políticas e empresariais da alta sociedade. Ainda mostrava-se humilde, seus ensinamentos não foram perdidos, mas pouco a pouco se tornavam opacos, sem brilho. O povo da comunidade: Dona Rosa, Afonso, Seu Dracir e todos os outros, sentiam a falta daquele menino-moço, não mais o viam por aquelas bandas.
O povo da Mãe Maria vivia épocas de tensão. A cidade crescerá e ganhará importância e posição de destaque econômico no estado. A cidade recebia a cada dia novos moradores dispostos a investir no ramo imobiliário. O município não era tão grande em extensão territorial e a favela Mãe Maria travava o crescimento da malha urbana na zona oeste da cidade. Na câmara dos vereadores já haviam aprovado a construção do Bairro dos Prazeres naquela área e a justiça já tinha dado a desocupação daquelas terras em favor do município.
O prefeito da cidade retardou o projeto da construção de um novo bairro naquele local. Era época de eleições e como a maior parte dos moradores da comunidade tinha o titulo de eleitor na cidade, preferiu-se evitar o transtorno eleitoral do colegiado, por hora.
Golpe do destino, nesse mesmo ano, Carlos iludido com o poder político se candidatou a prefeito. Tinha uma imagem ótima, filho do Cirurgião Doutor Carlos Camargo Filho, formado em economia pela maior universidade do país, jovem, eloqüente, bonito, com bom circulo de amizades. Não demorou muito para cair nas graças do povo. O pessoal na comunidade logo manifestou seu apoio ao “menino”, talvez fosse à única salvação para toda aquela gente. “Ele há de lembrar onde cresceu”, exclamou Dona Rosa.
Carlos venceu com folga o antigo prefeito da cidade, o velho e rabugento Maciel Medeiros.
De fato, Carlos tinha um belo projeto para sua comunidade, regularizar as terras, construir casas populares financiadas pelo governo federal em auxilio aos municípios em desenvolvimento econômico e dar uma condição melhor a sua segunda família.
Carlos não havia entrado nesta sozinho. Nessa de política é você e sua turma. E a turma de Carlos eram os mais eminentes empresários da cidade, donos de construtoras, casa de materiais de construção, imobiliárias e etc. Para eles, casas populares em lugar privilegiado da cidade próximo ao centro econômico era quase uma heresia. Apresentaram ao novo prefeito uma contra proposta, um loteamento na zona leste, antigo depósito de lixo, para assentar as famílias da favela Mãe Maria. Lugar suspeito, longe da cidade, dos locais de trabalho, tratamento de esgoto, água, asfalto incipiente e tudo mais. Carlos relutou em vão, sem o apoio de sua “turma” não se manteria por muito tempo no governo.
Iludido mais uma vez, assinou o contra-projeto proposto pelos empresários da cidade e autorizou a desocupação da área da favela Mãe Maria. Um dia antes (da desocupação) teve um sonho, lembrou-se daquele belo dia, em que se perdeu por aquelas terras, conheceu uma família maravilhosa, uma comunidade exemplar e aprendeu a ser homem. Logo, em meio a seu sonho, apareceram uns palhaços, com olhos vermelhos, sangue na boca e unhas grandes e sujas. Neste sonho, os palhaços incendiavam as casas da favela e devoravam os moradores, os que sobreviviam eram presos, algemados e jogados no lixo, como carniça. Carlos acordou em prantos, não suportava aquela visão.
O dia D chegou, logo cedo pela manhã, os policiais militares já estavam a postos, armados até os dentes em caso de algum protesto mais exaltado. O povo relutou pouco, as mães choravam, os pais apanhavam o que tinham de mais importante e os filhos andavam pelas vielas da comunidade pela ultima vez. Carlos não teve coragem de comparecer. Ficou em seu gabinete. Triste, mudo, naquele dia não recebeu ninguém. A maior parte das famílias saíram de suas casas, mas permaneceram próximo ao local. Quiseram ver as maquinas destruindo em um dia os sonhos de muitos anos. Era uma comunidade pobre, é bem verdade, mas conheciam bem os princípios solidários que não regem mais nossa sociedade. Meses depois foram transplantados para o novo bairro na periferia da cidade – Vila dos Amores – onde só havia tristeza e lamentações. O local era fétido, por conta do antigo lixão, havia doenças de ratos e tudo mais, não havia transporte eficiente e a água ainda não era 100% tratada. Varreram a comunidade para o lixo, como carniça, igual ao sonho de Carlos.
No mesmo dia em que as famílias receberam suas novas casas, na Vila dos Amores, Carlos assinou sua saída do cargo de prefeito da cidade das ilusões, recolheu-se em seu sítio a 20 km do município e nunca mais foi visto pelo povo da antiga comunidade Mãe Maria.
Dizem por aí que o antigo prefeito ficou louco e todos os dias manda centenas de cartas para a Vila dos Amores pedindo perdão pela sua traição. O povo de fato comenta este acontecido, mas ninguém verdadeiramente dá muita atenção, com tantos problemas em seu dia-dia, já se esqueceram por completo do menino que apareceu em um dia de chuva e foi tratado com enorme cordialidade por aquela comunidade.

David Lugli (Junho de 2010)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Farsa

Entre a vigília e o sonho, pensamento me esclarece:
Essa é uma história de milhões,
De uma imensa massa de gente acorrentada,
Presa, sufocada, reprimida e desorientada.

O relógio bem diz que é hora de acordar
Cenas repetidas todas as manhãs
O mesmo armário, roupas, cama.
O bocejar do sem graça, do sem cor, do sem amor
Tudo é tão igual, é mais um dia entre todos os dias.

Mais uma vez no escritório, na fabrica, no hospital, etc.
As mesmas caras, as mesmas pessoas, as mesmas conversas
A repetição eterna, sem fuga, sem afago.

No fim de tarde é hora de ir embora (hora feliz!)
Uns retornam a casa, outros vão à escola.
Tem aqueles de academia e de caminhada.
Todos os dias a ida do mesmo retorno.

Enfim, chega o final de semana
Pensamos: “Estamos livres”
Não amigos! É apenas um tempo agudo que massacra nossa liberdade
Somos iguais cachorros de canil levados para um passeio matinal.

Não somos livres e é isso que quero dizer
Estamos presos, guardados, amordaçados pela rotina
E pergunto: Por quê? Para que?
Se quiseres podes responder um milhão de coisas
Dentre elas escolho estas:
Para acumular reservas financeiras de segurança,
Para garantir um futuro seguro e melhor,
Para a viagem de tua vida,
Para sustentar sua família com televisão e microondas, ou
Para se sentir útil na maquina perversa da sociedade burguesa!

Digo: Que sonhe os infelizes
Também sou um de vocês
Não nego minha condição, mas nem por isso sou hipócrita.
Quero sair da maquininha que nos esgota
Que nos faz perder a critica, a energia e a fé.
Digo a vocês que nossa imaginação e nossos sonhos
Formam o nosso paraíso na terra
Mas, não querem que esse paraíso exista para cada um de nós
Pois, se assim fosse, como iriam nos manipular, nos persuadir, nos enganar?

Quando acordar logo pela manhã, pense:
Será que nossa vida deve ser um “eterno cotidiano”?
O que se pode mudar?
O que, hoje, posso mudar?
Como, agora, posso me mudar?
Será que devemos, para sempre, ser feito conteúdo de um molde?
Uma estatua de gesso com forma pré-concebida?
E o que é pior, já elaborada antes mesmo de nascermos?

Se esgote em tentar responder estas questões
Pelo menos, esse esgotamento não será em vão
É uma tentativa – que já aviso de antecedência – será oprimida pelos outros.
Mas pense por si e não pela maioria
Tu sabes que eles são conduzidos,
Maquiados e manipulados perversamente
Pela mídia, pela indústria, pelo consumo e pela religião.
Sabes que isto é verdade muito antes de eu dizer!

Se não fosse, pelo menos, viveríamos com um pouco de paz
Não seríamos tão agressivos e individualistas,
Egoístas e maquiavélicos.
Se ainda achas que não é bem assim,
Então amanhã, de manhã, quando acordar,
Levante esse pescoço travado e olhe.
Depois de olhar repare, reflita e entenda finalmente o por que!

Por que os rios estão mortos?
Por que não há mais matas que cidades e latifúndios?
Por que os pássaros não cantam mais em nossos terreiros?
Por que as crianças se lançam nas drogas e no crime?
Por que só os pobres e miseráveis estão nas prisões públicas?
Por que grandes criminosos são nossos governantes?
E veras tantos outros por quês!
Que sentirá uma repulsa, um enjôo, uma falta de ar.
Perceberá, finalmente, a grande farsa
Esta grande mentira, tudo isso que é sombrio e ilusório
Toda essa vida vivida sem cor nem sabor,
Sem reflexão nem pensamento.
Aí lhe peço encarecidamente que corras
E se livre dos primeiros grilhões que te prendem
Vá para seu lugarzinho de infância,
Ou em meio à paz da natureza.
Reflita muito, coloque os pensamentos na calmaria do lugar
Veja se teus atos são também uma farsa
Se forem e tu se sentir incomodado, mude!
Mova-se enquanto é cedo, não te negue mais.
Abstenha-se, remodele-se, vire-se e desvire-se, ria, leia, escreva, converse.
Jogue tudo para o ar e apanhe só aquilo que lhe é útil.
Não seja dominado, mas também não se transforme em dominador.
Saia desta regra inútil e destrutiva.

Plante uma arvore e veja-a crescer, florescer, dar frutos e replicar.
Escreva tua vida toda em poesia,
Ame sua mulher todos os dias
Como fosse o dia que a conheceu,
Ame a natureza, sinta o sabor das frutas,
Jogue seu bagaço e sua casca na terra
E veja-a tornar-se preta e fértil,
Faça uma horta, um pomar,
Admire os ninhos e a ninhada das aves,
Observe a chuva e sua posterior calmaria,
Repare ao anoitecer a fauna que aparece
Para viver sob a lua e as estrelas.
Note as estrelas, conte-as e diga a si mesmo
Que cada uma delas é um sonho não realizado.
Sendo assim, realize um sonho por dia,
Viva a vida plenamente e verá que ela não tem fim.

Mas, se porventura achares que tudo isto não passa de linhas
Cheias de palavras inocentes,
E, se já não for mais capaz de imaginar, de se reciclar.
Coloque seu relógio as 06h00min e acorde,
Lave seu rosto, tome seu café, boceje sem graça mais uma vez
E vá trabalhar, esperando que um dia, enfim, tua pobre vida acabe!

(David, Junho de 2010)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

AS BRUMAS

“Quando se olha para o espelho não se vê, não se enxerga, ficamos parados, mudos e imutáveis, vemo-nos como uma eterna mascara, e não importando sua roupagem, o resto, o que realmente somos, e não o que nossos olhos vêem, muda permanentemente” (Inspirado no conto “O Espelho” de Guimarães Rosa).


Era dia – e meio – entre nuvens cinza e o céu azul. Nesse agudo espaço entre praia e mar, as ondas chicoteavam a areia e emitiam seu peculiar estrondo.
Até mesmo os sirizinhos da praia ficavam meio entremeio. Sob a areia perigo de chuva, em suas casinhas subsolo, sem alimento. Iam e vinham, para fora, hora, para dentro em um momento. Uma dança mímica anunciando a chuva do outro dia.
A outra manhã era cinza. De nuvens uma só, imensa, carregada de água mar vinda lá do sul do mundo e estando aqui, nessa ilhota, despejou-se sem dó, sobre tudo que é praia e mar e sobre todos que são gente, floresta e animais. Não havia jeito, esse tempo sorrateiro nem ameaçava cessar. Era preciso sair desse “entre meio”, ou fica ou vai? Vamos! Decidimos logo. Andemos sobre esse mar e céu de chuva e cinza, nessa pouca luz de nublado.
Nessa caminhada há pedras no caminho. Intransponíveis? Nem tanto. Um pouco difíceis de escorregadias, de chuva, de vento no ar e água nas pedras. Vai de canto, passa no meio, escorrega, toma cuidado e olhe bem por onde pisa! Pula em uma, salta por outra até chegar a seu fim. É beira de praia, passagem uma para outra, estreita que só. Lá em cima, logo no altão, depois de tudo que é pedra, tem outra ainda maior: Imensa Cabeça de Tartaruga, vigia do caminho, porta de entrada da outra praia. Essa se abre, agora, diante de nossos olhos. Original.
Essa outra, muito bonita também, meio enseada, mais fechada, com escarpa bem juntinho da areia marcada por exuberante mata, seus riachinhos cortando toda floresta, beijando o mar. Ó tudo isso fazia refletir luz, mesmo nesse dia, em nossos olhares.
Lá em cima, correndo com o olho sobre a escarpa, no cimo da serra, depois do verde musgo de mata e pouca luz, ali estavam às graciosas brumas: Essência viva do mistério invisível e espírito revelador. Mostra-se toda em plenitude, escondendo algo indivisível e desdobrando o entre meio em tempo inteiro. Tudo isso visto, intuído, aqui de baixo, com olhos pequenos; belo mito a nos revelar.
As brumas mudam tudo em nossa concepção. O pensamento fica mais amplo, abraça o espaço-tempo, traga de uma vez esse tem não tem de toda hora. Ela agora é nossa companheira, em síntese somos: Céu cinza, mar bravo, praia estreita, escarpa florestada, cimo e bruma, tudo junto, interconectado. As brumas nos revelam as belas palavras que nos foram ditas em um tempo inalcançável e fazem-nos despertar sobre a plenitude, a totalidade do universo. Tudo isto também acontece em tempo lento, é pura observação do espírito.
Lá ao longe, damos até logo ao totem “cabeça de tartaruga”, nós já vamos e ele fica para trás. Antes de fim de praia, entre matas e escarpas, uma casa, ou ao menos vestígio dela. Vemos fumaça entre bosque, atividade de fogo cotidiano, intuímos residência, há alguém que mora lá! Por aqui é assim que se vive: barco de madeira no barranco-garagem-frente-mar, casa dentro de mato, da praia só se vê bruma de homem, só vestígio de gente na natureza. Essa essência de vida que já passou ao menos para boa parte da gente, lá resiste, altera-se é verdade, mas conserva-se assim, como dito.
Sem mais. Morro acima. Liso é o morro-sabão, é revelador também, ponte estreita e íngreme de uma a outra praia. Liso barro de chuva fina incessante. Lado de lá, o da descida, é só pedra, acerta o paço, ou melhor, o jeito de pisar e vai olhando atencioso para baixo e sempre em frente!
No fim é outra praia, agora brejo. Difícil penetrá-la. Muitos riachinhos a corta e a chuva só fazem inundar. Tudo isto visto no pé do morro sabão. Olhando, uma vez mais por ele, como breve despedida e ultimo suspiro de voltar a andar, de passagem de vista, outra grande pedra, lá no alto solitário, rosto de perfil de macaco. Mudou-se o dono de “tudo vê” desta praia.
Na agilidade da paciência, tem que se mover entre água, areia, poça e barranco. Atola o pé, pula o riozinho, desvia de lá, sobe no morrinho para algum caminho ver-mos. Hum! Lá no fim dessa praia tem um delicioso suco de manga, viva, gostosa. Foi congelada ainda espumante e fresca, quando era, então, verão. Tudo mudou por aqui, pelo menos em clima e gente, mas o suco, essa manga, parece a de outrora; divino refresco de fruta e chuva fina.
Em nossos corações ouvia-se o palpitar do cansaço da travessia. Devíamos voltar de barco para outro lado da ilha, mas embarcação não mais havia. O que faremos? Retorno imediato, agora, breve, antes de escurecer? Sim, vamos logo, o caminho é difícil e a chuva... Essa agora apertou!
Passo ligeiro, voltando para pousada, ainda na praia, olha lá, as brumas sobre a floresta até parecem pensamentos. Um momentinho que se passa e a brisa do mar a dissolve foi-se a ligeira névoa. Nesse escasso momento de pouco existir, nessa doce ilusão de vagarosamente pensar, forma-se devaneio em meu pensamento: As brumas vêm e vão, anunciam algo que não vemos, mas, que está, sempre, em plena formação, em constante atividade.
Olho do lado e vejo minha existência dissolver-se, revelar-me algo que ainda era nebuloso, me dirigindo para dentro, perdendo as mascaras, engolindo o reflexo. Não me vejo mais, não como “eu”, sou só dissolução, sou só palavra-alma, conteúdo sem limite, sem forma estabelecida. Nesse breve instante, aquele de intuição, de flash, esse devaneio me aparece, como que bruma, escorrego sobre esse mistério, desfazendo-me, diluindo-me e transformando-me novamente em alguma outra substancia, em simples fórmula de natureza.
Logo se volta ao corpo, essa condição insustentável de existir.

(David, 2010, após a “travessia” de algumas praias)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

OPA É A COPA!

Dos sonhos de menino ao presente
A Copa encanta, retrocede, redefine-se
Dantes nos colocávamos no lugar dos craques
Hoje consciente torcemos por eles.

Lembramos de Copas passadas, de como éramos,
o que fazíamos. Nostalgia.
Aquela foto de criança com a camisa amarelinha,
bola de capotão no braço e
papai do lado com uma calça boca de sino.

Amigos juntos no bar. Antigas namoradas
consolam seus amantes numa eliminação
e as cornetas são guardadas e outras
quebradas num ato insano.

Opa ! Vai começar a Copa
Hoje já tem jogo
Pode ser tragédia ou glória
mas com certeza será história.


CIRO R. PIRES
08 /06 /2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A INSUSTENTÁVEL GRANDEZA DO SER

Toda grande muralha,
Por maior que seja,
Um dia desmorona.

Vimos isso na história antiga
E também, na mais recente
Mente aquele que diz ser para sempre
Sempre é mudança.

Toda construção
Deve ter base
Ter união

A grandeza se mede
A leveza: sente-se!
Cairão sistemas,
Religião,
Até mundos!
Não cairá
A energia
Que sempre regará
O homem como planta!

Inércia: aqui estamos!
“Estáticos na força dinâmica”
O tempo é longo
As mudanças; nem tantas assim.

Sentado (na inércia) perceba!
O movimento a revelar-te
Aquilo que te falo agora
Verá dinâmica na inércia
E pensamentos que vagam
Querendo encontrar-se

O operário trabalha
E vê a obra realizar
Não se importa, nem se incomoda
Faz por que sabe
E sente-se bem

Pior os que se importam
Verá seus castelos caírem
Como o Feudalismo
E o muro de Berlim

Cairão todos
Tudo!
Romperam os estigmas de outrora
Recordar-se-ão os Historiadores?
Histórias constroem-se
Sozinhas
Nas mãos de muitos!

Sentado vejo barquinho
Derivar sobre a eterna inércia do Oceano
Lá se vai ele
A procura de sabe-se o que... Aonde?
Vai embora
Naquele lado
Outra grandeza vai encontrar

Quanto maior mais difícil
E insustentável
Sustente-se
Na leveza
Na harmonia
E busque aquilo
Que é principio
Em todas as coisas!

(David – 2010)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Dono

Toda vida, toda minha,
Todo seu, nada meu,
Todo o mundo, suspiro profundo.

Todo aquele que nada têm,
Toda essa que de um dono vem,
Não sou teu, sou meu,
Meu!... Cadê o teu?

Assim, nada para mim,
Apenas o que é meu,
De teu, nada teu,
Tudo meu.

Aquilo que é vida toda,
Que todo mundo vida tem,
Dono, que nada tem,
Além, da vida tua,
Que de tua nada é,
Pois, nada tem.

(João Tozzi, 28/05/10)

terça-feira, 4 de maio de 2010

SAINDO DA SOMBRA

Certo dia, levantei-me com uma suspeita. Ainda que confusa, me pareceu no momento muito sensata, de que eu, e toda essa gente, vivíamos perdidos em um mundo absurdo.
Procurei, nesse mesmo dia, atender de corpo e alma a essa suspeita. Talvez esse “mundo absurdo” que eu residi por todo esse tempo, até aquele momento (em certa medida uma revelação) parecia-me um pouco confuso, de fato, mas ainda distante de ser absurdo.
Fui então, fazer uma visita a uma igrejinha da cidade. Pude reparar nas suas belas “imagens sacras” e em seus símbolos religiosos. Esses pareciam dizer mais do que uma coletânea de sermões papais.
Foi nessa ocasião que o padre começou a discursar sobre “boa conduta” e “garantias cósmicas” a toda aquela gente, que naquele momento era seu moribundo rebanho. O padre ia inflamando seu discurso para falar sobre o poder da fé, o rompimento com o mal e a recompensa divina.
Achava eu, tudo àquilo às avessas. As pessoas cantavam e se abraçavam, sorriam e rezavam. Tudo parecia bonito, mas tudo aquilo era uma espécie de conto. Um conto fantástico e de fantasia, enfim, um conto de fadas.
As pessoas após saírem da tal igrejinha voltavam a seu mundo profano, cercadas por todos os lados de rumores e descrença. As mesmas pessoas que se abraçavam lá na igreja desejando, umas as outras, a inalcançável “paz de Cristo”, em outro dia, na rua, no centro da vila, desviavam o olhar, e isso, eu mesmo pude verificar.
Assim, os dias foram se passando e essa minha suspeita confirmava que minha capacidade de ver o mundo tinha levemente se alterado. O bastante para achar o mundo, naquele momento, absurdo, mas sensível também “o bastante” para não ser enquadrado pela sociedade e pelo meu núcleo familiar como desvirtuado ou louco.
Os meus símbolos culturais ainda eram fortes o bastante para fazer-me suportar essas emoções e ainda dar certa precisão a meu pensamento (ao menos acredito nisso). Em meu peito ancorou novas fórmulas e idéias, além de recentes expressões emocionais. É como dizem os sábios de pouca falácia – É nas pequenas coisas que se encontra algum sentido que valha a pena lutar. E é nessa incessante luta pelas coisas pequeninas que se tem força para viver.
Com essa breve “filosofia” comecei a tirar de meus pensamentos as correntes do “absurdo” e assim clarificando pouco a pouco meus olhos. Confesso que todo esse processo é um pouco confuso e é difícil se ter uma noção exata do progresso. No começo permeamos na contradição. Pensamos e agimos, falamos e fazemos coisas distintas. Mas é com paciência que “essas coisas” parecem mudar. Vamos modelando nossas disposições, hábitos e compromissos. Vamos ficando crentes em nós mesmos e em nosso coração, sem despertar o fogo ameaçador da vaidade.
E é nesse ambiente de mudança que vamos recebendo certos “dons”. Aqui, dons ou simplesmente dom não é conceito que se faz popularmente dele – Sendo erroneamente afirmado como coisa promissora e de qualidades a serem veneradas, doados aos homens e mulheres sem o mínimo de esforço. Para eu e meu “mundo absurdo” o dom é algo também doado, mas antes, descoberto. E para se descobrir esse “dom” é necessário trabalho e empenho. Saímos do “dom divino” para o dom humano.
É certo que todos estão aptos a descobrir o seu dom, aquele ao menos que lhe cabe, que ele busca e não necessariamente ele encontra. Muitas pessoas padecem sem antes descobrir um único dom, e suas vidas se vão como se nunca tivessem existido. Sem dom, sem sentido, sem sentido, sem contemplação, sem contemplação, sem experiência, sem experiência, sem aprendizado, sem história, enfim, sem vida.
Com esses pequenos dons que fui (re) descobrindo, que comecei a me motivar. Essa minha nova “tendência” parecia-me persistente, diferente de “estados de espírito” que surgem e desaparecem como neblina. Essa motivação era como um novo estado permanente de existir. Era como que se tudo estivesse em um processo lento, mas gradual de clarificação. Esse processo todo me despertava novas emoções e mais que isso, me tornara mais sensível e mais comovente.
E foi assim, que eu parti como grão de areia levado ao vento pelo mundo, tentando torná-lo menos absurdo, uma purificação que não dispensaria o suadouro forçado nem o vomito induzido de tudo que é impuro e destrutivo.

(DAVID – ABRIL/10)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Amigos, é assim...

Eis que chega o momento. Lembro me bem quando perguntei a minha mãe sobre seus amigos de infância e juventude. Onde estavam? Porque não estavam com ela?
Ela pacientemente me disse: Seguiram seu caminho que a vida encarregou de mostra-lhes!
Sem hesitar, com a inocência de criança, disse a ela: Pois meus amigos comigo sempre ficarão!
Anos se passaram e os amigos iam e viam, mas sempre estavam juntos. Nesse meio caminho outros tantos se fizeram amigos em minha vida. Alguns se foram, outros ainda estão juntos, mesmo à distância.
Mas de qualquer forma as previsões de minha mãe acabaram por concretizar. Tantos amigos de “para sempre” acabaram indo. Tantos amigos de até mais “acabaram por ficar”.
Tal foi esse ensinamento que hoje, em um só pensamento me lembro de todos meus amigos, todos com cara e roupagem diferente, mas todos com apenas um só coração, aquele coração que leva consigo a essência de uma boa amizade!
Amigos e liberdade são para sempre, mesmo quando não os vemos. Aos meus amigos de perto, aos meus amigos de longe, aos meus amigos que ainda não fiz e aos meus amigos que daqui já partiram, desejo a todos uma boa amizade, uma amizade infinita e uma amizade em liberdade. Liberdade talvez seja isso, gostar de alguém para sempre, perto, tanto quanto longe, pois como um grande amigo disse a todos, estamos juntos “amigos” sempre quando estiveres em nosso coração!

Amo todos!

(DAVID)

sábado, 10 de abril de 2010

Enquanto não admitir que a caridade é algo tão importante quanto o sono reparador é para o corpo e não praticá-la, não serei realmente feliz!!

10 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

ANTI-TESE

Nossa única aldeia,
Aquela que serve o estado,
É formada por cidades múltiplas
Vivendo em sua egoísta anarquia!

(David, Março de 2010)

TESE

A comunidade dos solitários
Encontra público em sua psicologia
Sozinha em meio à grande grupo
É feito pensamento perdido no parque.

(David, Março de 2010)

CRUZEIRO DE IRINEU

A planta de força
Leva-nos a viajar
Por sua sabedoria natural
E compreensão infinita.

(David, Março de 2010)

SÍMBOLOS

Hoje é um dia negro,
Com olhar de noite.
O claro virá amanhã
Em um dia que ainda é cego

O fogo de Maria
É a virtude do povo.
A Batista água de João
Transforma-se em força social!

(David, Fevereiro de 2010)

sábado, 3 de abril de 2010

Tão longe e tão perto, tão perto e tão longe

Ironia do destino
muito assunto guardado
à espera de um encontro
nostalgia

O dia chega
o encontro acontece
em meio a desencontros
desaparece

Imprevistos acontecem
chuvas, tempestades e trovoadas
descompromisso e preguiça
falta de coragem

Tão longe e tão perto do coração
Tão perto e tão longe da alma
Amigos para sempre
outro dia agente se fala


Ciro R. Pires
04/04/2010

OBS: Após o desencontro de todos os poetas em uma oportunidade num feriado prolongado.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A ARTE DO ÓCIO

Em busca da Terra Sem Mal
Procuramos novas terras, outros caminhos...
Içamos vôos em diversos planos
Rasgamos a estrada que corta o mundo
Levitamos ao tomar o vinho dos deuses

Essa busca é a própria viagem
Sem sentido ao homem-cotidiano
É a forma mais pura de vida ao homem-pássaro
Que em plenitude toca o infinito

Nossa viagem não se mede em tempo
Ela se estende do nascimento a morte
Da vida real ao pensamento
Da viagem carnal a viagem astral

O homem-viajante é seu próprio caminho
Dificilmente sabe a hora de parar
Leva na bagagem o pensamento leviano
Percorrendo o espaço terrestre
Como onda escorregando no mar

O viajante é pessoa de sorte
E a sorte é a mãe do viajante
Ela nos diz que não há o que erguer nesse mundo:
Nem palácios, nem igrejas, nem impérios...
Há que ser – “Ser e existir”

Existir é tua melhor sorte
Existir plenamente em todos os lugares
Não como usurpador de tua gente
Mas como singelo viajante
Que humildemente se desprende dessa vida
E alça vôo por incertos caminhos.

(David – Março de 2010)

Obs: Homenagem a todos os viajantes desse mundo e principalmente ao maior deles, o mestre Hermann Hesse!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Coração aberto

Da própria força que ás vezes se esconde
as transformações são reais
As tentações nos atrapalham
e a atenção deve ser redobrada

Siga suas convicções e tenha fé
mas ajude sua crença
Saiba separar o joio do trigo
selecione quem caminhará ao seu lado

Se você fizer o que sempre fez
terá os mesmos resultados
Ouse, faça diferente,
a colheita será farta

Se mesmo assim, a felicidade não for plena
não desanime
faça novamente diferente
a busca eterna é o que nos deixa vivo,
Viva!!!!!!


Ciro R. Pires 09/03/2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Amigo Amante

Há alguns anos atrás escrevi esse poeminha, meio blocado, meio confuso, mas bonitinho.
Impressionante como a vida nos leva a caminhos tão distintos em tão pouco tempo. Me identifico agora com as palavras, mas não mais com o sentimento. Tudo que nos enfrenta nos alimenta, nos fortalece e nos faz mais completos. Que bom que a vida é feita de momentos assim!

Amigo Amante

Passarinho me contou
que uma amizade se embrenhou
nos caminhos de um amor.

Coisa ESTRANHA, coisa séria!

E agora o que se faz?
Como voltar atrás?

Coisa séria deixa triste,
confunde o coração afoito
acostumado a ser trancado nos caminhos,
no labirinto de um só flerte.
De um outro amor.

Coisa ESTRANHA, coisa séria!

Amigo amante, que perigo!
mas é bom porque com o amigo,
tudo fica mais bonito,
mais gostoso e tão tranquilo.

Riso então se colhe às pencas.

Coisa BOA, coisa séria!

Se perder se faz mais fácil.

Um amigo vai prum lado,
um amante sai chateado.

Coisa TRISTE, coisa séria!

Como finda essa quadrilha,
toda cheia de lampejos de momentos tão perfeitos?

Amigo amante, não sei se aguenta...

Não parece possível tanto sentimento
ficar junto num só relacionamento.

por Luís Otavio (já há alguns bons anos atrás...)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Eis o meu caminho

De coracao renovado, apos tempo de reflexao, me sinto leve como o vento, me sinto livre, me sinto capaz. Liberto de mim mesmo. Sabido do caminho a trilhar, sem medo de repressao, pronto a lutar, a me perdoar.
O coracao se abre ao novo caminho. 2010 sera um ano diferente assim como 10 anos atras o foi. Renovacao, reconstrucao, decisao.

Aos meus que muito amo, eu realmente os amo, queridos amigos...espiritos amigos que a seculos caminham ao meu lado. Hoje reconheco em voces amigos queridos, mas no entanto, nao podemos esquecer que temos nossas indidualidades, nossas trilhas. Eis a minha.

Um grande beijo a todos.

Joao Tozzi 25/01/2010.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Um novo ano: Ventos e mudanças

O que quero fazer com as palavras? Talvez penso em fazer obras! Mas, obras literárias já não é meu foco. Não que não deseje isso. Sim, desejo! O problema é que em mim não floresceu essa capacidade, esse entusiasmo, essa intuição, a própria sabedoria das letras. Então me arrisco em poemas cheios de sentimentos, porém sem ordem, sem rima, sem vocabulário, com pouco conhecimento gramatical. Sou um escritor sim, escrevo e demonstro sentimentos, mas minhas palavras, letras, frases, poemas e reflexões são livres, soltos, voláteis.
Sou eu um artista? Não! Artistas são diferentes! Não sei explicar, não sei como é! Assim sendo, considero-me uma sombra. É! uma sombra, um reflexo, sei lá, algo que não é, não foi, está sendo, pronto para desabrochar, pronto para desdobrar-se de si mesmo, como faz a flor, a borboleta e o próprio deus. Desculpe as analogias, elas são pobres, mas assim mesmo, são reflexos de meu ser, são minhas filhas, são meus dedos, meus olhos, meus pensamentos.
Mas um ano chega e logo ele se vai e deixará um legado qualquer. Não me preocupo mais com o vir a ser. Agradeço as boas poesias de verdadeiros artistas que me ensinam todos os dias como devemos levar a vida. Melhor dizendo vivendo a vida. Levar soa como algo castigado, duro e fútil. Levar a vida seria um peso, um carma. Melhor vive-la. Viver é sinônimo de existir e a própria existência é um grande mistério e uma grande maravilha. Vida deveria ser sinônimo de liberdade também. Sem leveza, sem liberdade, a vida se torna pesada, rude e assim deixamos de existir e passamos a ser um encosto, um peso, uma ilusão. Viver então é minha mensagem para esse novo ano. Viver com liberdade. Você é seu mundo. Entendam isso como quiser, mas peço que reflitam para que não me tomem por egoísta ou egocêntrico. Não tenho mais mensagem a dar, pouco a pouco elas vão me deixando e eu vou ficando mais leve. Não tenho nada a ensinar, sou aprendiz e quero viver. Ainda não consegui tal façanha. Ninguém que eu conheço conseguiu. Raros e loucos foram os que tomaram nota da frase “você é seu mundo” e conseguiram viver, existir, voar, enfim, se libertar. Esses não nos dizem nada, se calam. Nada há nada para dizer. Não há mais espaço para novas filosofias. Nem as velhas, se quer, ainda foram compreendidas. Não há mais lugar para ensinamentos, eles jamais foram alcançados. Agora é uma nova época, um novo pensar, um novo olhar. Não esperemos mudanças bruscas. Elas também não existem. Esperem mudanças, elas virão gradualmente, suavemente. Virá acanhada, no começo, tomara fôlego, e transformará toda a existência. É uma nova vida, é uma singela mudança. Não terá mais filosofias, não virá mais religião, não existirão sequer ensinamentos. Não haverá professores, nem doutores, nem mesmo haverá fantoches. Não haverá política, sem governantes, sem reis, xeiques, sutões, usineiros, bandidos, assassinos, prefeitos, médicos, nada, nada...
Se considerares essas palavras vazias ou até mesmo sem nexo, presenciará os ventos que soprarão diferente. Serão ventos novos, um ar puro que jamais sentiu em sua falsa vida. Viverás finalmente, porque se libertará das correntes. Elas nos prendem duramente. São correntes tão fortes como aço. Mas são correntes invisíveis, elas existem apenas em nosso ser. Sendo assim, elas não nos deixam viver e trancam-nos na caverna de Platão.
Pense bem, o que falo não é anarquia, tampouco o sonhado comunismo. Não é também espiritismo ou nova religião. Pense bem, é apenas uma frase que desejo de tudo isso. A essa altura não carece mais repeti-la, eu mesmo já me canso dela. Vou-me embora desse texto, ele já está cheio de palavras, palavras e muitas palavras. Antigas palavras, antigo alfabeto, já vão dando teu adeus, nem tu resistiras os ventos dessa mudança.
DAVID (1/10).

UMA HISTÓRIA PARA CONTAR

Para não se esquecer da essência da vida, devemos observar, comparar, refletir e reproduzir o que aprendemos. Sobretudo, devemos observar a natureza, obra-prima da criação divina.
As observações no mundo atual parecem estar cessando. Devemos experimentar reaviva-las novamente. A natureza observada é todo nosso ensinamento, mas, não damos crédito a isso.
Planejar é construir mentalmente uma obra de idéias. As idéias podem vir a ser uma intenção, uma intenção transformar-se em ação e, finalmente, desta florescer uma criação. Assim, observar a natureza é aprender a obrar idéias, novas idéias que a natureza nos concede gratuitamente, pois também, fazemos e somos parte dela. Observação, aprendizado, planejamento, construção de idéias, poder de ação moldado por uma intenção e finalmente a criação que flameja do fenômeno natural. Tudo é obra e faz parte de um todo incessante e pulsador. Somos ligados a tudo, interdependentes de uma suprema energia regente; a Deus. Devemos fazer parte de Deus, respeitando assim, suas obras, pois, são divinas. Divinas obras arquitetadas pelo mestre universal. Aprender-mos nos com suas obras e implantar no mundo novas idéias, trazidas a tona pela observação da natureza, como faziam e fazem as populações que a muito a respeitam.
Temos uma história para contar se começarmos a agir, a fazer, a obrar. Entender a natureza e assim ser mais perceptíveis aos fenômenos naturais que são universais. Temos o olhar, temos a visão, observação, o reparo e o entendimento. Sejamos então parte e comunhão do todo, sejamos obreiros, aprendendo e ensinando através das obras divinas. “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” (Livro dos conselhos).

David (1/10).

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

eis que chega o novo ano...

O novo ano chega,
não é fácil começar mais um ano,
parece que tudo começou exatamente como 2009 terminou...

Eis a minha reflexão...

Nada será como antes,
assim dizia o poeta, certo?

Assim também espero eu,
inocente e sem saber direito pra onde ir,
pra onde guiar meu cavalo...

Acho que assim,
desse jeito tranquilo e sem saber pra onde vou,
talvez chegue num espaço, num lugar, onde não imaginaria sozinho.

Estou agora na companhia de queridos.
Amigos reais, daqueles antigos e fortes.
Daqueles que a gente não pensa nunca em deixar!
Estou agora envolto de seres incríveis.
Seres daqueles que são raros de se encontrar,
e que jamais se quer abandonar!

Estou feliz hoje, aqui e agora...

Comecei um ano sem saber pra onde ir,
Sem saber o que fazer...

Talvez essa companhia me dê um norte,
um caminho.

Preciso disso talvez!

Mas antes de qualquer coisa.
sei que estou bem guardado,
bem acompanhado,
cheio de amigos!

Vamos lá,
um ano me espera, na verdade espera a todos nós...
Vamos ver no que dá!

Há de ser algo bom...

2009 já foi pobre demais,

não há o que se deva repetir...

Encontros para a eternida!

Num raro momento de encontro,
as coisas ficam mais fáceis quando os amigos estão ao redor.

Hoje é noite de diversão, de música, aliás, de MPB e reflexão!

Obrigado meus amigos!

Presentes: Eu, David, Sue, Ciro e Ju (uma lenda)!

Beijo do Lu!