"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Há Tempos

As arvores entoavam a canção do vento
Da vil sombra protetora renascia a vida
Insetos, pássaros e possessões
O espírito inculto resplandecia
No espírito límpido e natural
O homem olhava e admirava
Refletia, recantava, recobrava a proteção sublime
A simbiose recendia sobre o leito da vida


Sensações atemporais, sensações promiscuas
Confusas e selvagens, em perfeita harmonia terrena
Testemunhávamos a geniosidade da agricultura celestial
Floresciam nas áridas terras, incontáveis vegetações
Floresciam em nossos pensamentos inigualável mutualidade
Entre o céu e a terra, o homem
Sintetizado pela comunhão máxima entre o selvagem e o divino
Entre as milhares de almas que habitavam um corpo
Vários corpos revelavam a história da vida na terra
Reescreviam histórias a muito tempo recontadas
Histórias lendárias que residiam sobre a força motriz do homem (David Lugli)

A Batalha de Trentio

Alvorecer das estrelas
Em lugares imagináveis
Habita em nossas almas
Memórias encantáveis
Sobre o reino de Trentio
Jamais visto por ninguém
E ninguém a de verá
Pois esse reino obscuro
São fragmentos imaginários
Sobre pessoas de outro mundo

Jamais visto por ninguém
A luz a de brilhar mais forte
Na estrela de Trentio
Onde as almas descansam
Sem a presença de um corpo vil

A essas almas
Virtudes ão de brotar
Para alimentar a pobre alma
Dos encarnados
Pobres almas!
Corpos densos e atarracados

Virtudes ão de brotar
Do povo de Trentio
Ao nosso povo devagar
Fustigados pelas correntes
Que lhes trancam o pensar

A batalha de Trentio
É cenário em nosso sentimento inconsciente
Profunda imaginação
Oceano de idéia e ilusão
Fantasias logradas
Sobre um povo universal

Transcendendo as estrelas
Formando uma rede geométrica infinita
Esse povo corresponde a nós
Dizendo que o universo
É o limite mediano
Entre a razão do homem
E sua profunda imaginação (David Lugli)

Panacéia para o Espirito

Incompreendido e imperfeito como é...
Nos rendemos a flageladas emoções
E passamos atordoados pelo tempo
Abordando inconscientemente o que há de real para viver

Interrompemos-nos a cada passo a seguir
Pensamos a cada instante o que seremos
Ouvimos de tudo, falamos um pouco de nada
Sentimos sensações já sentidas e realizamos o já realizado

Já não sei onde cada um quer chegar
Vejo falsas posturas e falsas peças teatrais
Vanglorio o impensável e as poucas palavras
Admito ser tudo o que disse contornando o que penso

Retorno a antigas sensações
Que transcorrem qualquer parede materializada pelo tempo
Revolto-me a andar sobre a escuridão manipulada
Busco a verdade a cada descanso do meu espírito (David Lugli)

Síntese

A veia pulsa
As palavras correm
O corpo fala

Reações pretensiosas
Reações ocultas
Reações involuntárias

Reflito o que sou
Outro reflete o que é
Ambos refletem coisa alguma

A cultura é síntese
As palavras também
As pessoas fantoches culturais

A que dizer que a cultura é valida
Pois nos preenche de sínteses
Melhor não nos preenchesse de nada

Daí poderíamos ser selvagens
Como éramos e somos
Quando sabemos que a síntese
Não é a totalidade (David Lugli)

Sobre um momento não registrado pelo tempo (Daime)

Deitado sobre a mata
Me coloco a descansar
Encaixando a respiração
A forma do pensar

Mesmo estendido, exausto
Me presto a imaginar
Como seria se nada existisse
Diante do meu olhar

Quase vivenciando
O próprio pensamento
Sobre o não existir
Caio em profunda reflexão

Agora não mais homem
Não vejo limites a minha forma
E nem a minha própria existência
Não vejo, não ouço, não sinto

O que conheço, conheço por ser
Sou apenas, não aprendo, me transformo
Hora ali e aqui, mas sempre em tudo
E também em todo lugar

Não há vontades em ser
A não ser que a única vontade
É não ter vontade nenhuma
Há vida, mas não há vontades

Como se o espírito
Não mais habitasse o corpo
A prisão se torna vazia
E o eu já não mais existe

Parto então ao mistério
Que aos homens de cotidiano
Não passa de uma fantasia
Do seu próprio viver

Mas quando não mais
Se esta preso sobre o escombro
De pensamentos fragmentados
O mistério passa a ser a própria vida

Infinito como é
Não tem respostas as perguntas
Tudo é calmo, mas ao mesmo tempo
Repleto de sabedoria

Em pouco tempo ausente do corpo
O tempo se torna vago
E já não há pressa
Quando não se tem onde chegar

Mais ainda há penitencia
E o meu corpo se põe a despertar
Onde a dor é maior
Quando se tem o carma para carregar (David Lugli)

Não há sentimentos em palavras

Não há semântica
Para desfrute do pensamento
Não há palavras
Que vislumbrem um sentimento
Não há verdade
Nem mentira
Não a companhia
Ou solidão
As palavras eternizam
Sentimentos em ilusão

Moro bem aqui
No vale doce
Da desilusão
Sabor instantâneo
Emoções racionalizadas
Fontes de um principio
Perto do final

Lá fora temos as estrelas
Aqui dentro os pensamentos
A ponte do pensamento estrelar
É o todo, o universal
Me posturo a caminhar
Trilha longa e emoções curtas
Tão curtas que há perigo de cessar (David Lugli)

domingo, 22 de julho de 2007

Cerrado marcado

Cai a chuva no cerrado, assim então eu mato,
a sede incontrolável que com suor suportava.
Mandacaru forte e robusto, na seca do cerrado,
em baixo d'água refrescava, com alegria e espasmos.

Gado sofrido, com a água bebida de alegria mugia.
Água que caia, no solo sumia, se enterrava e sustentava,
lençol pequenino que no fundo crescia.

Comida não tinha no cerrado sofrido,
a palma então no almoço comia.
Sofrimento, some perante pão bento, que
de um trigo amigo, crescido e colhido se fazia.

Sol escaldante, queima e desgasta,
aquele que no cerrado marcado diz basta.
Marcas de lágrimas, superações incontáveis,
daquele que um dia no calor abominável calava.