"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

terça-feira, 22 de abril de 2008

Os dois lados da moeda

A luz do sol
Que me irradia
Em belo dia de segunda
É a mesma a iluminar
O solo ressacado do sertão!

A agua da chuva
Que molha a pureza
Da bela flor de meu jardim
É a mesma da enchurrada
Que mata crianças em Pequim

O bife acebolado
Levemente mal passado
A digerir em meu estomago
É o mesmo naco de carne
Que descarnou
O lombo da vaca morta

A lua que vejo admirado
Sentado a noite, quase calado
É a mesma lua a admirar
Assustada no universo
Os suicidios e assassinatos

O mesmo Deus
Que me dá paz e conforto
Diante do recanto do meu quarto
É o mesmo Deus
Dos retirantes mal-tratados
Do semi-arido brasileiro

A vontade que me faz ser
Simplesmente o que sou
É a mesma vontade dos idolátras
Em marchar por bandeira
Rumo ao extermínio racial

A moeda tem dois lados
Como a lua duas faces
Cada história é diferente
Para cada vida uma ausente

Sentado, eu aqui, a pensar
Meu punho a trabalhar
Rabisco esses versos presentes
Na folha morta
De uma arvore não mais existente!
(David Lugli).

Nenhum comentário: