"Aqui ninguém é louco. Ou então, todos o são." (Guimaraes Rosa, Primeiras Estórias)

terça-feira, 22 de julho de 2008


Ela gostava de sentir o sol no inverno. Gostava muito do sol, e no inverno mais ainda, pois podia senti-lo aquecendo o seu corpo. Era como se estivessem mais próximos, como se pudesse tocá-lo de verdade, numa troca íntima e essencial.Naquele dia, ainda com os cabelos emaranhados e o olho meio aberto, saiu do ar gélido das paredes da sua casa e sentiu o sol daquele iverno. Ficou parada, por alguns segundos, sentido o calor que tomava suas mãos. Olhou, sentiu e soltou um leve sorriso de gratidão inconsciente.Se pudesse ficaria o dia todo ali, apenas ela e o sol. Sem mais ninguém.Desligaria o telefone, desligaria o computador, desligaria a mente. Principalmente, a mente. É possível desligar a mente? Ela achava que era. Cada vez que vinha aquele pensamento indesejado, ela buscava fugir. Ria, se enganava, buscava algo inútil pra fazer. Não queria pensamentos sérios. Eles exigem muito de nós. Estava cansada de se sentir cansada. Esse cansaço intesgotável. Não importa o que fizesse, sentia-se cansada. Cansada da paisagem, da rotina, da mesmisse, da felicidade obrigatória. Agradecia ao Sol. Por não se entregar ao cansaço. Compartilhava com ele seus planos e ele os enchia de brilho, esperança e vigor. Agradecia ao Sol e torcia para que ele não fosse, nem levasse com ele tudo aquilo que lhe trazia uma satisfação inebriante.
(Sue Ellen)

Um comentário:

Uns cara aí... disse...

Parabéns Sueellen simplesmente do coração! Continue a contribuir com essas palavras!
"A alma do escritor é feito de dor"
David!